Amigos

29 de jul. de 2010

Homenagem à Você

Agora entendo
aquelas palavras
para lavar a alma
como um lamento


Hoje, já aceito
que certas frases
servem como crase:
sei o que é perfeito


Guilherme Fontoura.

22 de jul. de 2010

Dança de roda e canção

Mas então - que engraçado


falas em dor no coração


mas não carrega teu próprio fado
 
 
Guilherme Fontoura.

12 de jul. de 2010

Do Sublime

Do sentimento 
mais superficial
mais infantil
carnal, egoísta
narcisista
e até áspero


Daí nasce o amor




Guilherme Fontoura

9 de jul. de 2010

Jantar a Dois

Ela se prepara para o jantar - prato, forro e jarro de suco à mesa de madeira no meio da cozinha. No fogão, panela morna de sopa. Ficara o dia todo em casa e se sentia cansada de olhar para estantes vazias e a cama cuidadosamente arrumada. No rádio, a música doía. O corpo doía. A cabeça doía. Passado e futuro doíam. O rosto vulgar inflamado pela densidade do ar (até difícil de sentir) exalava indiferença - além de um cheiro de café e cigarro.
A TV ainda estava ligada - acabara de começar o jornal – e ela nem se importou, enquanto se ouvia gritos e risos de criança e sons de lata que pareciam fazê-las felizes. Todos estavam felizes, de uma forma ou de outra; a moça do lado praguejava e amaldiçoava tudo que construíra para sua vida, mas agora estava feliz; o senhor discreto sentado na porta de sua casa lendo um calhamaço com páginas amareladas, deixava transparecer a euforia de ter sido compreendido, e até arriscava sorrir sozinho.
Mas ela servia seu prato e se senta à mesa, a cozinha estava à meia luz, graças a um abajur velho e sem cor que piscava tirando-lhe a atenção (as velas não se acendiam lá), poderia apagar a qualquer momento. E ela gostava desse risco, esse abajur imitava a vida, era talvez uma representação de que até o que não precisa de pilha acaba: sem razão, sem justiça, como se tivesse feito o seu “papel” (acender e apagar). E como tudo na vida, ele se apagou de repente, demente.
Pensando na morte, resolveu jantar às escuras. Um jantar romântico. Imaginava jantando a dois, seu peito inchava de ar, mas algo lá dentro veio ao jantar, ela o estava esperando. Sentou-se à mesa e emprestou sua chama às velas. O ar ficara terno e brando como ela nunca havia experimentado, e ela soltara um sorriso que pareceu tornar toda a cidade mais bela.
Ela se apaixonara por esta coisa que lhe saíra, e já não era mais só naquela mesa, naquela vida.


Guilherme Fontoura.

Do Marasmo

Se teus olhos fossem reais
Seriam as estrelas
num universo às avessas
no qual eu poderia conhecer


Desejo tanto
a menor noite,
num reflexo só
olhando suas estrelas


Me afogando nesse jogo
e não poder voltar
me consumir aos poucos
até morrer de amor


Guilherme Fontoura.

8 de jul. de 2010

Pranto Manso

Que me mate essa dor
pois já não me quero mais
como meu senhor
preciso de seu cais


que eu morra de vez
(sei que faço cena)
mas foi dessa dor de cabeça
que nasceu Atena


Guilherme Fontoura.

6 de jul. de 2010

Mil Noites

Que cada dia agora
apenas parece ser
menos um
numa chuva nebulosa


Que venham todos, pois
preciso de um balão
para atracar em seu cais incerto
flutua ou paira no ar?


Guilherme Fontoura.

4 de jul. de 2010

Corpo Mole

Você que antes
me tirava a fome
e me adormecia
como uma música


Agora me ponho em greve
por não te ter aqui
em greve de fome
greve de ti


Guilherme Fontoura.

3 de jul. de 2010

O Inverno

Pensar dói
Música dói
Falar dói
Verdade dói
Mentira...dói
A mente dói
O corpo dói
Coração dói
Viver dói
Morrer dói?


Guilherme Fontoura.